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Foto do escritorThais Antunes

Coisas que eu senti pedalando em baixa intensidade

Pedalar observando as batidas do meu coração nunca foi algo familiar nos meus treinos. Aliás, eu raramente olhava pra o relógio quando estava pedalando, tudo sempre foi muito baseado na percepção de esforço, nos caminhos já conhecidos e assimilados pelo meu corpo. Porém desde que me propus passar um tempo (2 meses) pedalando apenas em baixa intensidade, ou seja, não deixando em nenhuma momento meus batimentos chegarem no seu máximo, venho sentindo um misto de sensações novas e é delas que quero falar aqui.


Estou no meu terceiro treino e o último foi o mais longo, portanto, o mais intenso. Uma estrada asfaltada que liga Canela a São Francisco de Paula, com muito sobe e desce, 44 km, 2h58min de pedal, 622m de altimetria. No começo meu relógio por alguma razão não marcava corretamente meus batimentos, cravou no 81,82 às vezes 80 bpm, e eu sabia que não estava correto. Isso foi logo no começo do pedal, e eu não sabia o que fazer.


Sai pra treinar de um jeito que nunca faço, aprendendo a controlar algo que nunca controlo e agora não tenho o relógio pra me dar a certeza de que estou fazendo certo. Fiquei confusa, mas decidi continuar e confiar na percepção de esforço. Ia me demandar mais concentração, uma sensibilidade mais apurada, mesmo que eu não atingisse o objetivo de permanecer na zona 2/3 de treinamento, eu teria desenvolvido um pouco mais de sensibilidade, e isso por si tem valor. Tirei a tela do relógio que marcava os batimentos e deixei na que mostra a hora. Seria isso, tudo no feeling.


Lá pelas tantas resolvi conferir ver se o sistema do relógio já teria se reestabelecido, já tinha. Então eu relaxei um pouco, o treino em si já seria desafiador, ter a praticidade de ver os batimentos ali claros na minha frente, não era algo que eu recusaria tendo a oportunidade de aceitar. Continuei mais feliz.


Tive conflitos internos sobre o que significa pra mim dar o meu melhor. Pedalar leve, correr devagar, regenerativos, treinos educativos, tudo isso sempre foi visto como algo "chato", como um caminho e não o objetivo em si, que é o que faz o coração bater mais rápido. Essa lógica é tão juvenil, regada de expectativas imaturas e pressas infantis. Me puni. Depois relaxei, sem tanta rigidez entendi que tenho sim, muito o que aprender. 


Existe valor na construção, no tijolinho por vez, nas pequenas conquistas. Existe valor em traçar objetivos, mas em planejar o caminho até lá, em executar o caminho até lá. E nesse lugar, banal, "chato", menos emocionado, é que as coisas extraordinárias acontecem. Por que sempre esquecemos? 


Pra mim iniciar um treinamento de base é a concretização de uma olhar mais maduro diante da vida, dos sonhos e do futuro. É preciso reconhecer o tempo das coisas. Estar conectado com a nossa natureza é entender e desfrutar dos processos. Vamos ver como serão os próximos treinos, não faltaram por aqui reflexões a respeito. 


Um abraço


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